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Arquitetos: Carlos Castanheira
- Ano: 2012
Descrição enviada pela equipe de projeto. Costa Grande é um lugar de três casas e uma ruína, nem aldeia é. De grande só o nome, o acesso através de uma esplendorosa mata de carvalhos, e a encosta sobre o rio Ovil, bem ao fundo. Na primeira visita a dúvida surgiu: ‘o que é que eu vou fazer destas ruínas, duas, e um espigueiro desconjuntado?’
A paixão, evidente, dos proprietários pelo local e pelo projeto obrigou a uma nova olhadela para ver melhor. Estranhamente, apesar de serem duas ruínas, a propriedade é só uma e a necessidade de as unir era evidente. A ruína, a nascente, apresentava melhor estado, numa análise optimista.
A que fica mais a poente eleva-se como uma pequena acrópole. Noutros tempos terá tido diversas funções. Agora ergue-se apenas como um marco de beleza. Deve ficar assim, um espaço interno mas aberto, logo externo. Os clientes gostaram da ideia. E eu gostei deles.
O programa é simples. A dificuldade encontra-se na resolução da ligação dos dois volumes, a cotas diferentes. A casa devia ser em madeira e permitir o usufruto da paisagem: eis as únicas premissas.
A ruína da acrópole será pátio ou solário, mas também entrada de visitas. No piso térreo ficará a sala, uma pequena cozinha e um sanitário. A norte uma varanda permitirá estar à sombra.
O piso superior será ocupado por uma sala de leitura e permitirá a circulação para o quarto e o banho. Este piso também é térreo. Uma varanda faz de união entre volumes mas também os separa, permitindo o acesso ao terreno sobre ela.
No espaço onde foi a loja dos animais será criado um pequeno quarto de apoio ou quarto de visitas. O magnífico aparelho das alvenarias da ruína, a nascente, será recuperado. Sobre ela a estrutura e o revestimento em madeira estendem-se ao volume que penetra na ruína da acrópole.
O novo volume tem base em betão aparente, rude, tosco, como o local, elegante de ruralidade. As paredes da acrópole, de singular qualidade e estranha pormenorização, fazem-nos adivinhar vários passados. Serão recuperadas. Colocar-se-ão portadas de madeira nas fenestrações. A casa será quase toda de madeira com estrutura, revestimentos e caixilhos também em madeira, sobre betão e pedra. As coberturas e impermeabilizações são em folha de cobre.
Os espaços exteriores serão tratados ao longo do tempo. Um pomar já foi plantado. Um jardim de ervas aromáticas se seguirá. A mata, na encosta, será limpa e o acesso pedonal privilegiado. Lugares como este devem ser retirados ao abandono e devolvidos ao prazer do olhar. O espigueiro, que marca presença à chegada, sem outra função que não seja a da sua existência, estende-se na sua morfologia…